Psicoterapia que consiste em fazer os neuróticos improvisarem uma representação com cenas que retratem seu próprio comportamento na vida.

julho 30, 2009

Vômito Político

Filed under: Uncategorized — psicodramas @ 6:18 pm

Juro que relutei ao máximo escrever sobre política. É bem clichê, considerando certas circunstâncias minhas. Contudo, após minha viagem a SP, a situação mudou de figura. Lá, conheci dezenas de prefeitos e suas respectivas prefeituras graças ao trabalho de quem chamo de Mama África. Definitivamente, não era lá meu ideal de férias, mas não reclamo. A bem da verdade, isso adicionado a boas doses de RPM (sabe aquela vontade que dá do nada de ouvir um CD que você não ouve há tempos?) serviram para este post que vos segue. Mas, diferentemente dos políticos, eu não prometo nada:

A série de telefonemas que abarcam o clã Sarney, onde aparecerem a neta Bia, o filho Fernando, o ‘padrinho’ Agaciel e, claro, o próprio senador-paternalista, é de tirar o fôlego. É válido dizer que é um tratado do modus operandi da política brasileira, onde o cargo público vira posse de certo grupo político. Há até uma certa afabilidade na preocupação paterna para ajeitar o cargo ao namorado da filha, como se estivesse falando nos preparativos do casamento deles. O que derruba a tese de que a família unida representa o que há de mais admirável na sociedade. Família unida, neste caso, lê-se quadrilha.

Por ordem judicial, foram feitas gravações pela Polícia Federal que mostram claramente a ‘afinidade’ entre José Sarney e Agaciel Maia – isso mesmo, aquele dos atos secretos. Na época, ele nem era presidente do Senado – o grampo é entre março e abril do ano passado, quando a Casa era presidida por Garibaldi Alves – é evidente o relacionamento comprometido entre ambos, e mais evidente ainda o fato de que o senador mantinha participação ativa nos atos secretos de nomeações de parentes e apadrinhados. Se isso derrubará Sarney? Provavelmente (infelizmente?) não. A questão é bem mais profunda, talvez nem seja mais uma questão unicamente política.

Acompanhando o desenrolar das ligações, percebemos mais que apenas a família Sarney, é crível para até mesmo solucionarmos a própria cultura brasileira (ok, lá vou eu dar uma de socióloga). Há muito do Brasil nesta conversa para conquista de um cargo público. E, muito além do que apenas em execração do presidente do Senado – o que, convenhamos, até agora teve pouco efeito -, é preciso reformular alguns conceitos sobre o modo brasileiro de resolver seus problemas. O tal ‘jeitinho’, embora condenável hoje em dia, ainda é o que impera e sob essa forma de conduta aparece o uso da coisa pública como algo pessoal.

É preciso olhar ao lado, nas câmaras municipais, nas prefeituras, nas entidades classistas, nos sindicatos, e ver como as instituições são geridas, na própria conquista de um emprego, na disputa de algum campeonato, enfim, onde há correlação de força, o nosso jeito aparece para escapar de regras comuns, e força a diferenciação entre uns e outros. “Todos iguais, mas uns mais iguais que outros”, escreveu George Orwell na fábula Revolução dos Bichos. É assim que o Brasil ainda se vê.

12 Comentários »

  1. Bem, é fato, é (crível como tu dissestes) que neste país tudo se resolve no velho jeitinho brasileiro de ser e contudo isso só vem a regredir ainda mais nosso país, uma vez que, quanto maior for a família ‘BUSCAPÉ’ ao lado deles maior será a abominável execração da política nacional.

    Comentário por Iris — julho 30, 2009 @ 8:11 pm | Responder

  2. Inicialmente, gostaria de deixar claro que a primeira impressão que fica evidente neste blog, é que é escrito por uma jornalista, e não por uma recém chegada no curso de pscicologia, se é que podemos assim dizer. Esse texto foi escrito com muita classe, e ao contrário do outro, houve clareza nos argumentos.
    Nosso jeitinho nunca deu certo e nunca dará. Não apenas dos brasileiros, mas do ser humano. Sem mais para o momento. Fique com Deus e que Ele te abençoe. Beijos

    Comentário por Rapha — julho 31, 2009 @ 12:50 am | Responder

    • Dizeres como:

      “Esse texto foi escrito com muita classe, e ao contrário do outro, houve clareza nos argumentos.”

      e

      Raphaela:
      Postei lá, Sarinhah! Não sei se vc vai gostar, mas não tô nem aí, eu gostei, isso que importa
      ahuahuhuauhuahuhuh

      Me fazem dar o real valor à sinceridade entre os amigos.

      Comentário por psicodramas — julho 31, 2009 @ 2:50 am | Responder

  3. De fato um texto de cunho jornalístico, acerca do seu conteúdo não posso opinar sou apolítico, sei que entra senador, sai senador, entra senador e a maracutaia continua a mesma, alguns mais discretos outros mais escandalosos, mas é a mesma coisa, nada muda nesse país, nada muda no mundo, nada muda nesse sistema!
    Só posso falar do formato do seu texto, e mais uma vez elogiá-la pela excelente escolha das palavras (“crível”), deveras fiquei pasmo com tamanho vocabulário, e com a concisão na escrita, muito objetivo, direto
    Bom em textos meramente literários poderei opinar com mais precisão acerca do conteúdo, no primeiro a Rapha boiou, nesse eu boiei, textos políticos não são meu forte, e quando falam do único político q eu simpatizo geralmente eu me irrito porque só falam mal dele!

    sarete continue com esses textos, em breve você será a nova Malu Magalhães jornalista!hehe

    Beijos

    Comentário por Rafa-Kun — julho 31, 2009 @ 3:20 am | Responder

    • reclamação: eu venho aqui e comento mas sou o único que fico sem resposta! vou parar de comentar, a jornalista não responde aos leitores!a propósito RPM é bom!

      Comentário por Rafa-Kun — julho 31, 2009 @ 5:35 am | Responder

      • ‘Magina’, Rafito, até agora só respondi três pessoas, não foram TODAS como você disse 😉
        Mas não fique mal, vou reparar o erro agora: te empresto meu DVD do RPM, daí você me perdoa, ok? Bsos!

        Comentário por psicodramas — julho 31, 2009 @ 3:06 pm

  4. Pois bem, Cada texto vc me surpreende mais em relação a forma de escrita , Na minha humilde opinião em relação a esse texto o sarney e um simbolo atrasado e explorador desse pais, mas com a saida ou sem a saida isso não vai acabar com essas mezelas nacionais, mas concordo plenamente que o sarney seja um “dalit”. Mas a varias coisas que a imprensa tenta incutir em nossas mentes. Porque a imprensa não pergunta a opinião do serra, só vai em cima do lula e da dilma, o principal pré-candidato da oposição, e ainda líder nas pesquisas?.

    Comentário por Jay — julho 31, 2009 @ 5:15 am | Responder

    • nossa meu imão entende de política!
      apenas uma correção “MAZELAS”
      tudo bem que ele é um intocável, mas essa porra não é um Sandy

      Comentário por Rafa-Kun — julho 31, 2009 @ 9:40 pm | Responder

  5. droga, perdi meu comentário super legal. (dados obrigatórios! puff!) não vou escrever de novo.

    parabéns pelo texto ;]

    Comentário por bia — julho 31, 2009 @ 11:37 pm | Responder

  6. Que bom que você vomitou… eu ainda estou naquela fase ‘ânsia’. Quem sabe meu próximo post não será regado a muitos sucos gástricos? Vida longa a minha bílis!

    Comentário por Amanhã é diStante — agosto 5, 2009 @ 12:42 am | Responder

  7. Como ainda não tenho intimidade com a escritora, prefiro me conter no que diz respeito ao conteúdo do texto, deixando o comentãrio da forma para um momento de mais intimidade.

    Concordo que a família Sarney é um bom exemplo da cultura brasileira. Na verdade, já me vi muitas vezes tentando encontrar uma solução para a contradição do brasileiro: criticar o “jeitinho” ao mesmo tempo que o cultiva. Evidentemente, não cheguei a nenhuma conclusão, mas estou convicto de que a contradição brasileira, que nos tona únicos no mundo, é a responsável pela nossa política desmoralizada, mas também pela nossa alegria e estética nas artes, música, cinema, arquitetura…
    Enfim, não é fácil entender um caso como o de Sarney sob um olhar ético.
    Restanos, então, entender sob o olhar político.
    Não podemos confundir as duas coisas, infelizmente….

    Comentário por Talles — agosto 5, 2009 @ 1:49 am | Responder

    • Apoiado, companheiro CRUJ!

      Comentário por psicodramas — agosto 5, 2009 @ 2:45 am | Responder


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